Numa certa etapa da vida profissional, o pintor Picasso (1881/1973) fez uma mudança na sua concepção de pintura. Inspirado pelo espírito de Leonardo da Vince (1452/1519), num momento de mediunidade aguçada, intuiu que deveria reassumir a criança (criatividade) e abandonar a pintura clássica. Muitas intuições que redirecionam a vida profissional e intelectual são obtidas através da mediunidade, muito embora as pessoas nem se deem conta da conexão que fizeram com os espíritos desencarnados. Em mensagem mediúnica, o espírito de Picasso relatou esse acontecimento psíquico e explicou que ao observar desenhos de algumas crianças vislumbrou que a criatividade real é aquela na qual o artista faz a catarse do momento da inspiração e não dá retoques na construção artística obtida. Ele disse que, a partir daquela intuição, fez uma volta ao berço e começou a pintar como criança. Relatou que quando o artista fica retocando um desenho em busca de uma forma mais definida e aperfeiçoada, aí ele troca a inspiração primitiva pela técnica e pelo medo de ser tido como alguém que não sabe desenhar. Em suma, o artista estraga e deforma a inspiração primitiva, muito embora alcance aplausos e efeitos mais decorativos. Picasso, em sua mensagem, não argumentou se o aperfeiçoamento da inspiração primitiva seria a inspiração para belo ou se seria a continuidade da inspiração. O fato é que a época permitia a concepção do desenho torto e da pintura abstrata. Normalmente, quando o artista conserta o torto no braço ou prefere consertar o olho da figura, colocando ambos os olhos do mesmo tamanho, está pensando na opinião dos expectadores e preocupado com a crítica que vão fazer ao seu trabalho ou se vão entender que ele não sabe desenhar. Com certeza, o artista estará querendo impressionar o público com a apresentação da obra. Essa preocupação, segundo a mensagem espiritual de Picasso, limita a inspiração, pois aquilo que foi consertado na obra seria a expressividade sentimental do momento da catarse da inspiração. A criança não faz isso. Ela deixa todas as desproporções ficarem no corpo do desenho ou da pintura, e, portanto, pode-se ter uma visão mais nítida dos sentimentos que ela colocou na sua obra de arte. E todos ficam encantados com os trabalhos das crianças. O adulto tem medo de ser simples e criticado. Por isso se arma, coloca a censura pessoal de sentinela e esconde os sentimentos, diferentemente da criança. Foi então que Picasso, num momento em que pensava profundamente na genialidade de Leonardo da Vince, intuiu esse caminho e seguiu essa orientação artística. Naquele momento ele deixou a criança assumir a direção da sua vida e do seu trabalho, resolveu desenhar e pintar como criança, e resultou que suas obras de arte repercutiram no mundo inteiro. Ele não não imitou uma criança e nem forçou a mão para desenhar como criança. Seria ilegítimo. Apenas deixou de lado as técnicas e desarmou a psique para deixar a criatividade espontânea fluir. Ou seja, Picasso bloqueou a censura, não deixou que ela assumisse a posição de supervisora do seu trabalho. Ele observou que toda criança é, inicialmente, um artista e que todo adulto pode a qualquer momento voltar a ser criança. Isto significa que os elementos da criança nunca se perdem e não desaparecem no adulto. No caso da arte, ninguém desaprende a desenhar como criança, a pintar como criança e a modelar como criança. Em sua mensagem espiritual, ele disse que quando a pessoa começa a deixar de ser criança está abandonando um grande tesouro de informações psicológicas. Em muitos casos, quando a pessoa fez da sua vida um emaranhado de sentimentos depressivos e malfadados, tem que retomar a criança abandonada para que ela indique o caminho que se deve tomar na vida para voltar a ser como criança e ver a vida com otimismo, amor e esperança. Bloquear a crinaça interior não é uma boa receita para a felicidade, para a evolução espiritual e para o sucesso.
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